terça-feira, 19 de julho de 2011

Jogo


Essa figurinha da foto se chama Sombra Viva e me pertence. Ela não tem pai conhecido, e a dona de sua mãe não sabe dizer precisamente quando nasceu minha adorável cadelinha. Calculo que está hoje com uns 60 dias de vida, mas coloquei pessoas para investigar antropologicamente (por analogia, apenas, é claro, na falta de termo melhor) sua linha de parentesco e a vida desregrada de sua mãe. Antes mesmo de conhecê-la já havia lhe dado nome e sobrenome. Encontrei-a num abrigo para animais, como ela, destinados à adoção. Estavam lá, Sombra e seu irmão, muito agitados, quando os fui visitar no sábado, 25 de junho último. Como eu já havia me decidido por uma menina, seu irmão ficou lá, muito mais agitado, à espera de um nome.

Dificílimo dizer o que essa criaturinha significa para mim. Eu recuso terminantemente as sugestões de respostas dos psicólogos. Diante das travessuras de Sombra, que relatava a um colega de trabalho, este me perguntou, esperando uma resposta certa: “é mais alegria ou mais raiva?” Para surpresa dele, acho, eu respondi que se tratava de um empate técnico. O fato é que Sombra exige certos procedimentos, digamos assim. Exige que coisas menores sejam depositadas em lugares mais altos, por exemplo, sob pena de destruição total ou que seja definida uma nova função ou utilidadde para o objeto manipulado por ela.

Com essa carinha, destrói o recipiente em que sirvo sua própria comida. O da bebida também. Estou esperando receber meu salário para comprar recipientes daqueles em que são servidos os pit bulls e esses cãezinhos maiores um pouco. Seria de gosto vê-la roendo aquela panela de 3 quilos de ferro fundido ou correndo com ela pela casa toda, empurrando e chutando, como Sombra faz sempre que eu pego um livro do Todorov pra ler. Acho que ela, assim como eu, tem alguma coisa contra esse... Essse... Formalista.

Agora mesmo, coloquei comida na cumbuca e água na tigela e me sentei para ler Tzvetan Todorov analisando os modos de ficção do Northop Frye. Sombrazinha procurou brincadeira comigo e eu a espantei. Pronto: foi lá, derramou toda a ração, virou a cumbuca, derramou a água e saiu correndo pela casa com a tigelinha. Tudo calculado, já bem sei. Fiz que não era comigo. Cinco minutos depois, parou. Veio. Eu com o computador ligado, livro na mão, caderno no colo, caneta na outra mão, fazendo anotações importantíssimas, é claro. Northop Frye! Todorov. Num lance, num pulo e num golpe que não duraram meio segundo, mordeu e arrancou um quarto da página do meu caderno. Fechei o livro e acendi um cigarro.

Devo confessar que o jogo está 9 a 8 pra ela.

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