quinta-feira, 21 de julho de 2011

Tijolo


Eu quase fui, mas não sou economista. Conheço o sistema capitalista apenas o suficiente para acreditar que ele serve ao que há de mais ruim no ser humano: vaidade, ganância, ignorância e mentira. Não poderia jamais falar de mim, sem falar de minha gente, "gente de silêncio", como se diz lá em casa. Da mesma estirpe do povo da Yerma de Lorca. Povo de montanha, vãos de serras, buracos do sem fim, "veredas mortas, veredas tortas" de curvas das águas e dos nomes...  As palavras nos saem doídas, como se fossem de pedras (estou ouvindo sugestões de lições de João de Cabral) e nós, da minha gente, as ouvimos, as palavras, na relação direta com a maneira como nós as produzimos, nós, essa gente de silêncio, que sente dor ao falar. Por isso sempre foi pra mim muito mais fácil ler e escrever (ações praticadas no Reino do Silêncio, sem a tensão da necessidade da resposta imediata, da devolução da palavra tantas vezes mal formulada). Outro traço de mim, comum a minha gente, é a tendência ao "mandonismo", que combato diariamente, "numa luta sem trégua", como mais de uma vez me testemunhou minha querida companheira da vida inteira, quer ela queira ou não (veja a prova já escrita do que acabo de referir). Por baixo da máscara do "conciliador", "político", como muitos me veem (sei que muitos me veem de muitos outros jeitos – recepção não se controla, como já defendeu um psicanalista cujo nome nem gosto de escrever – ,mas sabendo disso, isso já não é problema meu), creia que já habitou alguém que achava, ao 16 anos, que era Goethe, que era Homero... Vou me possibilitando corrigir, deixando-me polir, sem resistência maior do que aquela que me é própria, como ensina a pedra diante da força da técnica do martelo na mão do artista. Ontem um amigo me disse que se impressionava de me ver tão "sereno e resistente" debaixo da chuva de canivetes abertos como a que enfrento nesses dias. Eu respondi apenas que não me achava tranquilo, mas que a resistência se devia, com toda a certeza que posso ter, ao fato de eu saber quem sou e o que quero e espero, e da fé que manifesto no que tenho sido ao longo da vida. São momentos difíceis que enfrento com dificuldades, como todos fazem, eu acho, mas rolando a palavra/pedra dentro da boca, arredondando-a. O silêncio e palavra medida e demorada fazem  com que eu me mantenha no caminho do que eu preciso ser: melhor. Vai demorar, tanto melhor, mais tempo terá o artista para acabar seu sonho de beleza.

Imagem: mashpedia.com.br

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