domingo, 7 de agosto de 2011

Revisão III


“É com justiça que Christian Grataloup e Jacques Levy (1977, p.43) fazem o processo de uma geografia ‘para a qual o espaço, assim como o tempo, não é um dado objetivo, não tem existência real, mas se encontra em nossa maneira de perceber as coisas’”.

“Desde sua criação como disciplina aspirante a um status científico e durante a primeira metade do século XX, reconhece-se essencialmente duas tendências da geografia. De um lado, certos autores lutavam para assegurar à geografia uma categoria científica, um lugar na classificação das ciências e procuravam nela descobrir leis e princípios gerais, definir seu campo de trabalho, classificar os fatos de seu domínio e estabelecer uma hierarquia de valores. De outro lado, havia aqueles que, sob diferentes maneiras, procuravam fazer da geografia um corpo de conhecimentos imediatamente utilizável sem se importar quais poderiam ser as demandas dos utilizadores efetivos ou potenciais. À primeira orientação corresponde uma abordagem especulativa,  enquanto que a segunda leva a  todo tipo de pragmatismo. Se nos Estados Unidos é incomparável  o trabalho de um Hartshorne, de um Sauer ou de um Schaeffer, e de outros que estão acima da medida comum, pode-se, no entanto, sugerir que a primeira orientação era sobretudo européia. Este fato explicaria também a tendência dos geógrafos europeus a considerar o espaço como uma unidade, mesmo se raramente eles conseguiram transcrever suas intenções na teoria e no método. A geografia americana, alimentada de pragmatismo, tomando como objeto de estudo pedaços isolados  ou aspectos singulares da realidade ao gosto do cliente, acabou por pulverizar o objeto da disciplina e a própria disciplina. A proliferação dos temas a estudar a distanciava cada vez mais da construção de uma sínteses e, à medida que a geografia tornava-se mais utilitária, tornava-se também menos explicativa”.

“Resumindo, um pouco em toda parte, os geógrafos silenciam sobre o espaço. Algumas vezes silenciam também sobre o trabalho inovador de outros geógrafos e de outros espaciólogos” .

“A geografia é viúva do espaço (Santos, 1976). Sua base de ensino e de pesquisa é a história dos historiadores, a natureza ‘natural’ e a economia neoclássica, todas as três tendo substituído o espaço real, o das sociedades em seu devir,  por qualquer coisa de estático ou simplesmente de não existente, de ideológico”. Milton Santos em Por uma geografia nova, São Paulo, EdUSP, 2008.

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