terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Fugas II - Os jesuítas e a corda bamba

Vejamos:

Pe. Manoel da Nóbrega e a "dívida" com os mercadores negreiros
"A todos esses senhores [negreiros] devemos muito, pelo muito amor que nos têm, posto que o de alguns seja servil" (Cartas do Brasil, 1549)

Pe. Manoel da Nóbrega e a proposta de "sujeição moderada".
"Os Índios são capazes de se converter em direito, porque são homens, e de facto, porque já muitos se converteram. Mas importa criar condições extrínsecas aos Índios, aptas a facilitar a conversão: uma da parte dos missionários, que deviam tender cada vez mais à perfeição de evangelizadores; outra da parte dos Índios, uma sujeição moderada" (Diálogo sobre a conversão do gentio, Bahia, 1556-57)

Pe. José de Anchieta e o "bom pastor" que conduz o rebanho ao Rei
"Não foi sem causa escolhido/de Deus, por nosso pastor!/Bem o mostra no amor/e zelo tão incendido//Para pagar tal amor/que faremos, companheiros?/Que sejamos bons cordeiros,/pois temos tão bom pastor" ("Ao Padre Costa", em Poesias completas)

Pe. José de Anchieta e sua fé genuína
"Ó que pão, ó que comida, /ó que divino manjar/se nos dá no santo altar/cada dia!" ("Do santíssimo sacramento", em Poesias completas)

Pe. José de Anchieta criou diabos
"Diabo 1: - Não, envergonhando-se delas, na verdade,/e escondendo-as, não as fizeste sair contigo!/Bem com os meus olhos/vi que tu as escondeste./Apanha-o, Morupiaruera!/Ajuda-o, Mboiuçu!/Queima-o, Tatapitera!" ("Na aldeia de Guaraparim", em Teatro)

Pe. Antônio Vieira, o esgrimista: o "mimo" dos paulistas
"O mimo significa favor, benevolência, ou graça, e não justiça ou obrigação; e bastará para mimo de um índio uma faca, ou uma fita vermelha. Isto se reputa por paga suficiente, dado de quando em quando, que em outra parte se explica por uma ou duas vezes ao ano" ("Voto do Pe. Vieira sobre as dúvidas dos moradores de São Paulo acerca da administração dos índios", em Escritos históricos e políticos)

Pe. Antônio Vieira, o pré-economista (o economista será Antonil)
"O remédio temido, ou chamado perigoso, são duas Companhias mercantis, Oriental uma, e outra Ocidental, cujas frotas poderosamente armadas tragam seguras contra Holanda as drogas da Índia e do Brasil. E Portugal com as mesmas drogas tenha todos os anos os cabedais necessários para sustentar a guerra interior de Castela, que não pode deixar de durar alguns. Este é o remédio por todas as suas circunstâncias não só aprovado, mas admirado das nações mais políticas da Europa, excepto somente a portuguesa, na qual a experiência de serem mal reputados na Fé alguns de seus comerciantes, não a união das pessoas, mas a mistura do dinheiro menos cristão com o católico, faz suspeitoso todo o mesmo remédio, e por isso perigoso" ("Sermão de São Roque", pregado na Capela Real em 1644, in Sermões).

As ideias estavam fora do lugar quando aqui chegaram. Aqui, aqui estava tudo certo.
Ouvi outro dia uma ideia esquisita: dava conta de que os nativos da terra não "viram" os invasores, pois, para "ver", primeiro é preciso que uma imagem da coisa vista esteja já instalada no cérebro de quem supostamente vê. Nossos primeiros habitantes a fazer contato com os europeus teriam visto qualquer coisa menos o que realmente era. Talvez nunca tenham sabido, esses do primeiro contato, com quem conversaram tantas tardes, olhando o mar.

Para a série Fugas, ainda J.S. Bach:

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