sábado, 18 de fevereiro de 2012

Forêts de symboles

Trilha em Praga, com sinalizações: http://minhavidaempraga.wordpress.com

O que me diz uma imagem poética? Talvez melhor fosse formulada a questão se eu perguntasse a mim mesmo o que diz de mim uma imagem poética. Ou ainda se, antes, indagasse sobre a estrutura da imagem poética e o significado que pode ter para mim ou sobre o que revela do imaginário de uma época. Ou ainda, o que há numa imagem poética que insinua a dissociação tantas vezes negada entre espaço e tempo. Pode haver algo numa imagem poética que escapa às marcas do tempo?

Tentemos verificar: quando Riobaldo espalha por todo o espaço o verde dos olhos de Diadorim, “vislumbre meu – que cresciam sem beira, dum verde dos outros verdes, como o de nenhum pasto”, “meus buritizais levados de verdes”, o que faz? Depois dos grandes olhos verdes de Diadorim, Riobaldo passa a ver tudo por esse prisma.

Desnecessário dizer que a poesia precede a prosa, e que, como queria o próprio Guimarães Rosa, na língua de “antes de Babel”, os homens falavam por imagens. Aí, a poesia (e a imagem poética) foi a primeira manifestação lingüística do homem. Isso foi quando (desculpem o advérbio) ainda não havia tempo. As muitas línguas coincidem com o aparecimento do homem histórico, o homem no tempo.

Dos milhões de coisas vividas pelo homem antes disso, uma muito mais que memória permaneceu nas sombras. O homem tirou o pé da floresta física, para começar a percorrer a floresta de símbolos. Baudelaire fixa de forma categórica: “La Nature est un temple où de vivants piliers/Laissent parfois sortir de confuses paroles;/L´homme y passe à travers des forêts de symboles/Qui l`observent avec des regards familiers”. “Templo”, “palavras confusas”, “floresta de símbolos”, “olhares familiares” são todos mitemas, de mitos diversos e que poderiam ser reunidos num só. O poeta terá que ser sempre outro, este, obscuro até para ele mesmo. Mesmo suas palavras lhe soam estranhas, porque pertencem a um tempo mítico, tempo suspenso. Espaço de todo humano vivente. O encontro se dá nos olhares familiares com que a natureza simbólica que o observa, caminhando dentro de si mesmo, só podendo se expressar numa língua que é de todos.

A imagem poética será sempre primordial. Sua força está no que supera o tempo e sugere a experiência comum, de humanizar o inumano combate. Pelo fato de sentir-se tão humanamente isolado, cria a ilusão do retorno à unidade perdida, sentimento das profundezas do espírito. Alguém poderá ter medo de se perder, sem jamais ter se perdido? Sim.

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