domingo, 15 de abril de 2012

A Liberdade em Minas IV


"ROMANCE XXXVI OU
DAS SENTINELAS

De noite e de dia,
por todos os lados,
caminham dois homens,
que vão disfarçados,
pois são granadeiros
e - sendo soldados -
alguém lhes permite
bigodes rapados.

Ai, pobre Alferes,
que gira inocente,
sonhando outro mundo,
amando outra gente...
Vai jogando sonhos:
- lúdica semente! -
brotam sentinelas,
miseravelmente...

Ao sair das portas,
diante dos sobrados,
em qualquer esquina,
sempre ali postados.
São dois? São duzentos?
São dois mil? Lavrados
em febre, parecem,
e multiplicados...

       (Esses vultos que me seguem,
       Joaquim Silvério, quem são?

       Devem ser as sentilnelas
       que amanhã me prenderão?

       Quem as pôs sobre os meus passos?
       Quem comete essa traição?

       Responde, Joaquim Silvério,
       quem nos leva à perdição?)

Mas não há resposta,
- que o traidor prudente
desliza nas sombras,
não fala de frente...
A um deserto surdo
clama, inutilmente,
o animoso Alferes...
- Só ele - presente.

CECÍLIA MEIRELES, no Romanceiro da Inconfidência, "Romance XXXVI ou das sentinelas".

2 comentários:

  1. Gilson,
    Muito obrigada pelas palavras, a poesia que deixou na minha janela. Fiquei sensibilizada.

    Encontrei aqui a beleza da sua imagem e do poema de Cecília Meireles.
    Grata.
    Um abraço!:)

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    1. Ana,
      obrigado pela visita. Esta é uma bela e trágica história de 223 anos e ninguém a conta melhor que Cecília, eu acho. Só podia ser poesia.
      Abraço e boa semana.
      Gilson.

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